A Virgem Maria reza contemplando o futuro


Não é com poucas palavras que podemos esgotar todo o mistério orante de Maria de Nazaré. Maria, à semelhança de Jesus, é fonte que nunca se esgota, a nascente onde mais se bebe e mais jorra água viva. Não é somente pelo caminho da inteligência que podemos compreender a grandeza de Maria, é necessário aproximar-se dela com o amor de filho e aí o seu coração de Mãe se abre para nós e ela vai sussurrando palavras que só o amor pode compreender. A Igreja sempre nos tem apresentado Maria como a excelsa filha de Sião que, na sua casa de Nazaré, vivia à espera do Messias e que, um dia, vê-se assumindo a sua responsabilidade de Mãe do Salvador, permanecendo fiel ao projeto de Deus silenciosamente, sem nunca interferir na vida de Jesus. As palavras que os evangelistas nos transmitem são de uma sobriedade que, de um lado nos comove e nos deixa maravilhados, do outro lado nos agridem e nos sentimos com vontade de gritar: “por que nos disseste tão pouco sobre uma mulher tão grande?”. Mas as respostas não chegam; pelo silêncio da fé e pelo dinamismo da esperança é que o amor se faz gesto concreto.

Temos meditado o Magnificat (Lc 1, 46-55) e vimos como esta oração surgiu espontaneamente num coração feito serviço generoso. E como Maria nos ensinou a olhar o nosso passado como lugar teológico e campo da experiência religiosa para contemplar as ações do Senhor. Cada vez mais sinto que o passado é um sacramento da memória que deve ser enaltecido porque louva e canta as vitórias de Deus, e da memória que deve ser purificada de tantas lembranças tristes e de tantos resquícios de pecados que não nos deixam entrever a beleza do horizonte.

Mas uma oração que se baseia sobre o passado e se fecha sobre o presente, sem dúvida, seria uma oração incompleta e não teria o vento suave e agitador do futuro. Nós somos acostumados a olhar o amanhã como a transformação da semente lançada rapidamente no fugaz presente que nos é dado. Estando em oração me veio uma ideia que pode até ser considerada “estranha, estúpida, peregrina e rara”, mas visto que para mim me ajudou, porque também não poderia ajudar aos outros? E a vida, ao ser sempre partilhada, se enriquece na medida em que reciprocamente sabemos colocar na mesa cotidiana o que se passa dentro de nós.

O passado não existe. Alguém dos meus poucos leitores poderá objetar: como o passado não existe? Ele está aí, diante de nós como memória, lembrança, como momento que nos atormenta e como estímulo para sermos agradecidos. Mas o passado não é outra coisa que acúmulo de tantos momentos presentes que se foram sem mais voltar. No mesmo instante em que nós achamos que estamos no presente nos encontramos já jogados no passado, que não é outra coisa senão o presente que passa. Diante do passado devemos assumir a atitude de Maria: fazer que seja um “eterno presente”, onde Deus “onipresente” vive sempre no presente da história e nele não há passado. Viver o presente dando-lhe o valor do eterno… É no aqui e agir, rápido e fugaz como a onda do mar que no mesmo instante que vem já se foi, ou a brisa do vento que você não pode captar. O presente não é outra coisa que uma janela que se abre no futuro, que nos estimula e nos convida a não perder de vista o amanhã… Somente quando chegarmos na eternidade aí estaremos dinamicamente parados no presente, contemplando para sempre o amor de Deus que não foi, nem será, mas é.

Sim, porque eterno é seu amor! Como é forte no nosso coração esta convicção do presente de Deus em nossa vida! Um presente que, ultrapassando todas as limitações do tempo e do espaço nos faz sentir que somos chamados a viver com uma forma de eternidade o nosso tempo, sacramento que nos é dado viver.

FONTE: http://www.comshalom.org/

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